Europa pode liberar eletrônicos em voos

Entenda por que você não pode usar o celular enquanto viaja de avião no Brasil

Ao entrar num avião, todos já sabem. Aqueles que não sabem, são avisados: é preciso desligar os aparelhos eletrônicos para que a aeronave possa fazer sua viagem com tranquilidade. Pois tal prática pode estar chegando ao fim na Europa. Isso porque a Agência de Segurança Aérea Europeia (EASA, na sigla em inglês) informou no fim de setembro que os passageiros de aviões poderão manter seus dispositivos ligados durante todo o voo, o que também pode abrir caminho para que as companhias aéreas ofereçam serviços de comunicação sem fio.

Os regulamentos atuais na Europa obrigam os passageiros a colocarem seus aparelhos no modo “avião” para evitar que emitam sinais de rádio que possam interferir com a aeronave. Agora, a Comissão Europeia autorizou o uso para comunicações 3G e 4G, que permite aos usuários navegar na internet e mandar e-mails quando os aviões estiverem acima de três mil metros.

“A nova diretriz libera as companhias aéreas a permitirem que os eletrônicos pessoais fiquem ligados, sem necessidade de estarem no modo avião”, declarou a EASA em um comunicado, acrescentando: “Esta é a mais recente medida regulatória possibilitando que se ofereçam telecomunicações ‘de portão a portão’ ou serviços de Wi-Fi”.

As novas regras, que só se aplicam às aéreas europeias, exigem que cada empresa faça seus próprios testes para garantir a segurança do uso de smartphones e tablets durante o voo, e já entraram em vigor, mas as companhias levarão algum tempo para se adaptar.

A Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos já entrou em ação para ampliar o uso de certos aparelhos eletrônicos durante os voos.

No Brasil, só com autorização

Pelos ares brasileiros já é possível usar aparelhos quando o avião não está decolando ou pousando. De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), “para a utilização de equipamentos eletrônicos durante o pouso/decolagem e antes da abertura das portas da aeronave no Brasil, a companhia deve solicitar aprovação à ANAC, após apresentar, por meio de testes, que tais equipamentos não interferem nas operações das aeronaves nas quais a solicitação foi requerida”.

Ainda segundo a Agência, a restrição é uma medida para que os sinais emitidos pelos aparelhos não causem qualquer interferência na aeronave.

“O uso de equipamentos eletrônicos a bordo de aeronaves é tratado no Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutica (RBHA) 91 e nos Regulamentos Brasileiros da Aviação Civil (RBAC) 135 e 121. Os requisitos apresentados visam evitar possibilidade de interferência eletromagnética nos equipamentos eletrônicos instalados nas aeronaves”, informou a ANAC.

Mas, a proibição não é 100%, de acordo com a Agência: “Desde 2010, a ANAC atua em parceria com a Anatel para certificar aeronaves brasileiras para o uso de equipamentos eletrônicos portáteis. Hoje já é possível realizar ligações e acessar a internet e aplicativos em aparelhos móveis durante a altura de cruzeiro do voo, ou seja, fora do período de pouso, decolagem e taxiamento da aeronave”.

A agência também disse que a relação dos dispositivos que podem ou não ser utilizados pelos passageiros consta dos cartões de instrução de segurança localizados em cada assento de passageiro, e que as companhias são responsáveis por fiscalizar se os passageiros estão usando algum aparelho eletrônico nos momentos proibidos, bem como realizar campanhas educacionais quanto às condições de uso.

Especialista fala dos riscos

Diante de toda a discussão, quais são os reais riscos que celulares e tablets podem oferecer a um voo? James Waterhouse, professor do Departamento de Engenharia Aeronáutica da Escola de Engenharia de São Carlos, explica que esses aparelhos são transmissores e trabalham com frequências muito mais elevadas do que o rádio VHF da aeronave, ou seja, podem interferir na comunicação dos pilotos, gerando riscos. “Por essa razão, estes aparelhos são vetados em fases críticas do voo. Isso é mais uma precaução, porque não existem estudos que comprovem o risco", diz.

O professor explicou como acontece essa interferência. Segundo ele, “os celulares emitem ondas eletromagnéticas em uma banda de frequência da ordem de Gigahertz (GHz). Já o avião, na frequência dos Megahertz (MHz). Sabe aquele barulho que uma caixa de som faz quando aproximamos um celular dela? Seria algo semelhante a esse fenômeno. Esses equipamentos podem interferir se estão em uma faixa de frequência baixa, muito semelhante à faixa do avião”.

Ele garante que é muito difícil, ou praticamente impossível, um avião ser derrubado devido a algum aparelho celular: “É altamente improvável. Como dito anteriormente, esses aparelhos podem interferir na comunicação entre a aeronave e torre de comando e, se isso ocorrer, provocar um erro e causar algum acidente. Mas a probabilidade de um avião cair devido a isso é muito pequena”.

O especialista, contudo, aponta para um risco maior do que a interferência na comunicação entre pilotos e torre: o fogo.

“Esses equipamentos são produzidos por normas de qualidade não aeronáuticas, e todos sabemos que vez ou outra algum equipamento portátil auto inflama-se. Por essa razão, deve-se desliga-los nas fases críticas do voo, pois debelar um eventual incêndio durante uma fase dessas não seria fácil”, explica.